Matéria publicada no Divirta-se!, no dia 06/08/2012.
Ana Clara Brant - EM Cultura
O projeto Escutatória vem sendo desenvolvido com sucesso pelo Emcantar |
Elas são o público mais espontâneo e também o mais crítico. Nem adianta tentar engabelar, porque crianças costumam ser 8 ou 80. Talvez por isso não seja tão fácil agradá-las de supetão, mas quando isso ocorre o resultado costuma ser proveitoso para todos. Músicas infantis sempre foram produzidas ao longo dos anos, mas de um tempo para cá esse filão vem se intensificando e artistas que originalmente nem eram associados a esse mercado, como Adriana Calcanhoto ou Fernanda Takai, investiram com sucesso nesse segmento.
“Hoje, a
produção musical para crianças é grande, de boa qualidade, mas tem
muita reprodução do cancioneiro popular ou de hits de adultos que estão
na boca de todos e acabam sendo adaptados”, avalia Maíra de Ávila,
coordenadora de comunicação e integrante do Emcantar, organização que
atua desde 1996 nas áreas de cultura, educação e meio ambiente nas
cidades mineiras de Araguari e Uberlândia, no Triângulo. “Nosso trabalho
foca no autoral, a gente estimula a nossa produção. E não precisa ser uma música infantiloide. A gente brinca com a palavra e o
som e acaba sendo uma diversão tanto pra gente quanto para os pequenos.
É importante esse tipo de iniciativa porque estimula o processo de
formação e de cognição da garotada.”
O grupo Emcantar lançou em 2012 o projeto Escutatória,
que mescla livro e CD e valoriza o senso de pertencimento, a função
social da arte e o encantamento como visão de mundo, buscando “o melhor
de cada um para o melhor de todos” no processo de criação. “Nossas
canções sempre são baseadas na cultura, no meio ambiente, na educação,
no lado filosófico da vida e são extremamente divertidas”, reforça
Maíra de Ávila. “Não é apenas um produto para a criançada, mas para
educadores e toda a família. O Escutatória também pode ser
aplicado como uma tecnologia educacional, já que trabalha as
potencialidades de cada indivíduo. É um processo de descobertas o tempo
todo.”
ÉRAMOS TRÊS Outro
grupo que se dedica ao assunto é o Éramos Três, de Belo Horizonte, que
no ano passado recebeu o Prêmio da Música Brasileira na categoria
melhor álbum infantil, com o CD Quando eu crescer, trabalho de
estreia do coletivo, com composições de Fernanda Sander. Além dela,
fazem parte Eduardo Borges (violão, guitarra, percussão, programação),
Filipe Guerra (violão, guitarra, baixo, programação) e Jalver Bethônico
(percussão, efeitos sonoros), que começaram a tocar
despretensiosamente, mas nunca relegaram a preocupação com a
qualidade.
“Não é porque é um trabalho
dedicado ao público infantil que ele vai ser menor”, ressalta Eduardo
Borges. “A proposta é desenvolver algo que não menospreze a
inteligência do público-alvo e sempre buscamos criar músicas rebuscadas
e verdadeiras obras musicais. A Fernanda Sander costuma dizer que não
faz música para criança, mas música com criança, porque tudo surge da
experiência e da vivência dela como professora de musicalização.” Ainda
segundo Eduardo Borges, esse é um espaço riquíssimo para ser
explorado. “A gente traz elementos lúdicos; a música deve brincar com o
ouvinte. E a criança costuma ser muito sincera e autêntica. Por isso,
quando há um retorno positivo a gente sabe que aquilo é verdadeiro e é
extremamente gratificante.”
Resgatando a infância
Resgatando a infância
Que tal ouvir clássicos infantis como Marcha soldado, Atirei o pau no gato ou até hits dos anos 1980 como O carimbador maluco, A casa ou A galinha magricela
ao som de uma guitarra, baixo e bateria? Essa é a proposta do grupo
mineiro Pirocóptero, que há 10 anos encanta crianças e adultos com seu
rock‘n’roll infantil. O baterista Vinicius Duarte, o Viny, conta que
fazia parte de uma banda de jazz, e no dia do aniversário de 2 anos do filho resolveu fazer uma apresentação com músicas infantis com uma releitura roqueira.
“Foi
meio de improviso e todo mundo gostou. Tanto que estamos aí há uma
década, apesar de um intervalo de dois anos parados”, conta Viny. “Os
adultos acabam se divertindo muito também, porque tem solo de guitarra,
bateria, baixo pulsante. É uma proposta diferente”, acrescenta o
músico, que se prepara para fazer show amanhã dentro do projeto Música
para Crianças, da Artelivre Produção e Comunicação, em parceria com o
Diversão em Cena, da ArcelorMittal.
O grupo chegou a lançar o disco Brincadeira é coisa séria,
com composições próprias, e procura criar as letras abordando temas do
universo infantil e pré-adolescente, além de mensagens positivas para a
garotada, sempre de maneira irreverente. “A ideia é resgatar a
infância, já que essa meninada de hoje não sabe o que é brincar na rua,
pular muro... E também procuramos tratar as crianças de igual para
igual. Não é porque elas são pequenas que são diferentes da gente”,
lembra.
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